segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O paraíso está em festa...

Os desapercebidos certamente não se deram conta do porquê de tanta chuva, o céu pareceu, e ainda parece, chorar, ou será que toda aquela água de ontem era porque o céu estava sendo limpo e arrumado para receber tão ILUSTRES presenças?! Quando criança a gente sempre ouve alguém usando esse argumento para explicar a chuva. Mas hoje digo que o paraíso está em festa, que São Pedro se prepare porque aí vão duas personalidades ilustres, que deixaram de ser, e volto a dizer, eis a vigência da vida - a morte - mas que permanecerão sendo, fecundos em suas obras. Que Beatriz os guie ao paraíso como o fez com Dante em sua Divina Comédia e que Exu, o guardador dos caminhos, os acompanhe.

"Hay hombres, decía mi maestro, que van de la Poética a la Filosofía; otros que van de la Filosofía a la Poética. Lo inevitable es ir de lo uno a lo otro, en esto como en todo'[Há homens, dizia meu mestre, que vão da Poética à Filosofia; outros que vão da Filosofia à Poética. O inevitável, nisso como em tudo, é ir de um termo a outro]" ... "é finda sua trajetória mística ... o descortínio silêncioso das coisas..." (A clave do poético, de B. Nunes)

A Benedito Nunes & Moacyr Scliar

In memoriam.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Orelha de Van Gogh

Alguém me disse certa vez que as "coisas" precisam morrer, é a vigência da vida. Mas elas não precisam ser esquecidas. Para não deslembrar...







[Conto de Moacyr Scliar - desenhado por Leandro Dóro]

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Significado do nome Daniele

DANIELE: variante de DANIELLE (Sugerida por internauta - pendente de revisão)
Origem do Nome Daniele

Qual a origem do nome Daniele: FRANCÊS
Significado de Daniele

Qual o significado do nome Daniele: FORMA FRANCESA PARA DANIELA.
Significado e origem do nome daniele - Analise da Primeira Letra do Nome: D

Muito atencioso, e apegado à família possui um senso maternal muito forte, é o tipo de pessoa que gosta de se sentir útil e necessário, com isso chega a assumir mais responsabilidades do que realmente pode suportar. Não costuma voltar atras em suas palavras. Muito ocupado, raramente se permite algumas horas livres para o lazer. Mas deve tomar cuidade em não se tornar dependente ou infantil ao extremo, para isso não deve se pendurar nos outros.
Significado do nome Daniele - Sua marca no mundo!
DISCIPLINA,PRATICIDADE,LEALDADE,CONFIABILIDADE,GOSTO PELO TRABALHO,SOLIDEZ E EFICIÊNCIA.
Confiança e lealdade é o que se pode esperar da pessoa cuja personalidade é marcada pelo número 4. Alguém que não admite superficialidade e covardia. Muito produtiva e eficiente, faz de sua bandeira a prudência e a disciplina. Com os pés no chão, não se deixa levar por nada que se mostre leviano ou propostas sedutoras demais. Pontual e responsável com seus compromissos, demonstra sempre uma grande estabilidade, fator que a faz respeitável por aqueles que a conhecem. Não deixa nada por acabar e respeita todos os regulamentos, por isso muitas vezes é considerada conservadora. Sua sobriedade não a permite ser muito extravagante, preferindo sempre um estilo mais clássico até no se vestir. Bom senso e discrição são marcas de alguém que leva à sério seus relacionamentos pessoais e profissionais. Uma tendência negativa é a de se tornar inflexivel e sistemática demais com detalhes. Uma forma de equilibrar este ponto e aproveitar as boas vibrações do seu número da personalidade é começar aceitando e considerando mais as opiniões dos outros. Assim a confiabilidade que lhe conferem terá ainda mais valor.
Daniele Significado - Numerologia - Expressão 5
COMO O MUNDO TE VÊ?
O número da Expressão revela a missão que tem, o que deve fazer ou ser nesta vida, para que atinja sucesso e alcance suas metas e objetivos. Descreve como você se expressa no mundo. O seu "eu" completo - personalidade, caráter, disposição, identidade, temperamento.Cheio de recursos e com uma mente aberta, tipo de pessoa que se mantem sempre informado. Muito inteligente e capta tudo com facilidade, por isso encontra diversas maneiras e idéias para fazer as coisas. Como aprecia a liberdade de se locomover e ir por onde quer, vive fugindo de responsábilidades ou de situações muito sólidas. Sente necessidade de mudança, e versatilidade de oportunidades, por isso acaba as vezes deixando seus projetos pela metade passando a imagem de pessoa insconstante. Por ser alguem de intresses muito variados tende a estar sempre fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Busca ocupações em que não precise ficar isolado, nem fechado em quatro paredes. Profissões apropriadas para esta Expressão são aquelas que o colocam em contato com as pessoas, como detetive, agente do serviço secreto, agente de turismo, ator, inventor, promotor, líder cívico, político, advogado, editor, orador, guia turístico, caminhoneiro, publicitário, crítico de teatro. Atenção para o excesso de bebida, drogas ou sexo e com a permissividade.
daniele Significado - Numerologia - Impressões 3
COMO VOCÊ VÊ O MUNDO?
Mostra a pessoa como é interiormente. Revela como pensa, sente e age. Seu o desejo íntimo da alma, o seu "eu interior", suas esperanças, sonhos, ideais, motivações. As vezes é possível que percebamos essa manifestação, mas talvez não a expressamos como deveriamos ou mesmo não vivemos de acordo com ela, assim estamos reprimindo os nossos sentimentos e impulsos, o que gostariamos de ser ou fazer, estamos adormecendo nossos objetivos secretos, as ambições, os ideais mais intimos.São muito expressivos, os de número 3 na Impressão encontram suas oportunidades ao escrever, falar ou representar. São imaginativos e criativos, como um verdadeiro artista. Levam a vida de forma leve mas gostam de chamar atenção e serem populares. Muito determinados, excessivamente generosos, possuem muita sensibilidade, agradáveis e prestativos com todos, mas também um tanto impacientes. Possue intimamente o sentimento de presunção que deve ser bem aplicado se quiser atingir seus objetivos. Excelentes oradores, escritores, compositores, cantores, atores ou decoradores. Por seu poder de oratória consegue se destacar também como ótimos vendedores do mercado de ações e do meio imobiliário. Apreciam música, estética, artes e estilismo. Pode se tornar uma pessoa supersensível, tímida, convencida, autodeterminada, impaciente, atormentada ou extravagante, se não tomar conta dos seus pontos negativos. Chegar ao sucesso não é dificil, basta unir seus interesses com seus talentos.
daniele Significado - Numerologia - Anseios da Alma 2
ANIMA - O QUE MOVE VOCÊ? A vibração da ANIMA mostra a impressão que você transmite às pessoas e os efeitos que lhes causam. Deve ser considerado um dos número mais importantes na sua vida. Conhecendo-o poderá entender o planejamento da sua vida. Compreendendo este plano e buscando viver de acordo com seu significado trará mais sentido à sua vida, e a fará mais útil e feliz. Ter consciência dessa vibração ajuda a reconhecer o porquê de suas aversões e gostos. Não desperdiçará um dia sequer de sua vida, e jamais a sentirá inutil ou sedentária na velhice se viver de acordo com as vibrações deste número. 2 - Sua vida é a procura de companheirismo, cumplicidade, amor, casamento e compreensão. Para atrair as amizades que deseja age com getileza e atenciosidade. Pessoas de número 2 geralmente têm capacidades psíquicas que apreciariam desenvolver. E normalmente gostariam de seguir carreira nas artes plásticas ou na música.
Significado e origem do Nome Daniele - Arcanos do Tarot
Arcano 4 - O Imperador

SIMBOLOGIA O arcano do imperador representa o crescimento interior, o ser humano, e como ele pode vir a ser se desenvolver seus potenciais. Ele representa o começo e a continuidade da luta pelo progresso, a idéia de persistência e produtividade. Traz a imagem de tranqüilidade e segurança e um grande senso de responsabilidade. Fala também da conquista pela influência poderosa que possui, e traz a vitória consigo.
ASPECTOS POSITIVOS Representa também confiança, riqueza, estabilidade, liderança, domínio da inteligência e da razão sobre a emoção, desejo de aumentar o seu domínio sobre as coisas da vida. Representa a força por meio do sucesso material. Carrega em si sabedoria e senso de justiça. Exerce respeito sobre as outras pessoas, mas precisa do apoio de alguém confiavel para realizar-se.
ASPECTOS NEGATIVOS Quando permite passagem aos aspectos negativos mostra um lado imaturo, falta de energia, indecisão, incompetência, futilidade, limitação, dogmatismo, fraqueza de caráter, imobilismo, medo da autoridade, ingenuidade e tirania.
INTERPRETAÇÕES DO ARCANO NO SENTIDOS:
MENTAL: Inteligência equilibrada, que não despreza o plano utilitário.
EMOCIONAL: Acordo, paz, conciliação dos sentimentos.
FÍSICO: Os bens, o poder passageiro. Contrato firmado, fusão de sociedades, situação do acordo. Saúde equilibrada, mas com tendência à exuberância excessiva.
PALAVRAS SÁBIAS Vemos que este arcano fala da proteção paternal. Firmeza. Afirmação. Traz como mensagem o poder da vontade inquebrantável, e a execução do que está resolvido.
Organize a sua vida. Coloque em ordem seus pensamentos, seus projetos, seu coração, sua casa, seus armários... Deixe pronta a sua vida para receber o fruto de seus sonhos. As vezes devemos usar as nossas características masculinas: aguerrimento, tenacidade, firmeza, determinação, virilidade, comando, razão lógica, força, autoridade...
"Bem diga o trabalho de tuas mãos e no do pensamento coloque o coração..."
INFLUENCIA NA SUA VIDA Esse arcano influencia positivamente 65% da sua vida.
Arcano 5 - O Papa

SIMBOLOGIA O arcano do Papa representa penetração de Deus nos três mundos possíveis, o divino, o intelectual e o físico. Fala das virtudes que vencem os sete pecados capitais. Indica sabedoria e o sinal de obediêcia à ela. Mestre da ciência e dos mistérios sagrados, aquele que representa as inspirações do espírito e da consciência, a fertilização do espírito, o uso e o abuso do conhecimento esotérico ou ocultista.
ASPECTOS POSITIVOS É o grande pai da espiritualidade, que indica poder espiritual, autoridade, novos aprendizados, justiça, inteligência analítica, equilíbrio, dever moral, compaixão, bondade, consciência, um grande conselheiro e generosidade, é também a corporificação da autoridade e da lei. Cultua sua autoridade natural e preserva seu senso de justiça.
ASPECTOS NEGATIVOS No lado negativo pode vir a demonstrar vulnerabilidade, fragilidade, irracionalidade, moralismo estreito, superstição, conselheiro incompetente e ressentimento. Mostra também a dificuldade em se adaptar as novas circunstâncias ou a situações de mudança. Sem uso da razão não consegue dissipar as incertezas e as instabilidades que sempre rodeiam a vida.
INTERPRETAÇÕES DO ARCANO NO SENTIDOS:
MENTAL: O Pontífice representa a forma ativa da inteligência humana, que traz principalmente as soluções lógicas.
EMOCIONAL: Sentimentos poderosos, afetos sólidos, solicitude, sem cair em sentimentalismos. O Pontífice indica os sentimentos normais, tal como devem ser manifestados na vida, de acordo com as circunstâncias.
FÍSICO: Equilíbrio, segurança na situação e na saúde. Segredo revelado. Vocação religiosa ou cientifica.
PALAVRAS SÁBIAS Perceba que este é o arcano do ato da bênção, da iniciação, do ensino. Emprego da Lei, e do dever. Fala de moral e consciência. Aponta para a busca de sentido, e para a chegada da hora da verdade, sugere confiança na indicação do caminho da salvação.
Muitas vezes, para podermos tomar uma boa decisão, para agirmos na direção certa, devemos ouvir alguém que tenha mais experiência. Assim. depois estaremos prontos para efetuar o nosso próprio julgamento.
"De ouvido te havia escutado, mas agora meus olhos te vêem e o meu coração te sente..."
INFLUENCIA NA SUA VIDA Esse arcano influencia positivamente 70% da sua vida.
Arcano 3 - A Imperatriz

SIMBOLOGIA A Imperatriz traz em si os aspectos matronais. Mostra que traz no seu íntimo a segurança e a tranqüilidade, e as emoções em perfeito equilíbrio, tem força de vontade e sutileza. Traz uma afirmação de fé e esperança na vida. E simboliza a multiplicação. Mais humana e terrena que a Papisa e sugere a produtividade feminina, ela é o ciclo da vida.
ASPECTOS POSITIVOS Aponta para o progresso real da vida, tanto profissional, quanto social e especialmente pessoal. A compreensão, a descoberta do corpo como algo valioso, a vaidade atuando como força positiva. É o prazer em todas as suas manifestações. Liderança, representa a alma do homem, sua compreensão, elegância e domínio, a feminilidade como forma de expressão, de criação e de poder exercido com sutileza. Talento e habilidade são seus instrumentos para enfrentar os obstáculos.
ASPECTOS NEGATIVOS Para conquistar progresso em todos os setores da vida, é preciso que tenha sempre os pés bem firmes no chão pois quando apresenta os aspectos negativos leva à esterilidade, desinteresse, infidelidade, vacilação, pobreza de espírito, fracasso, frivolidade, vaidade, falta de senso prático, perda de bens materiais, futilidade e abandono.
INTERPRETAÇÕES DO ARCANO NO SENTIDOS:
MENTAL: Penetração na matéria por meio do conhecimento das coisas práticas. Os problemas vêem à tona e podem ser reconhecidos.
EMOCIONAL: Capacidade para penetrar na alma dos seres. Pensamento fecundo e criador.
FÍSICO: Esperança, equilíbrio. Soluciona os problemas. Renova e melhora as situações. Poder continuo e irresistível nas ações.
PALAVRAS SÁBIAS Este arcano traz em si o sentido da Sabedoria. O discernimento e o idealismo, como armas. É o arcano da Magia Sagrada, instrumento do poder divino.
Os frutos da semeadura amadurecem e logo podem ser colhidos. Tudo tem um ciclo certo. Cada coisa a seu tempo. Na natureza nada se perde, tudo está em evolução.
"É a tecelã, ela faz telas para seu uso e telas que não irá usar..."
INFLUENCIA NA SUA VIDA Esse arcano influencia positivamente 80% de sua vida.
Arcano 2 - A Papisa

SIMBOLOGIA Símbolo do mistério dos sonhos e ilusões. A Papisa ou a grande Sacerdotisa representa a grande divindade feminina, regente da a magia, é também a poderosa feiticeira. Personificação da boa memória, aquela que detém todo conhecimento e registros do passado. Representa os três horizontes: passado, presente e futuro. É a representação do poder feminino e não precisa lutar para afirmar-se.
ASPECTOS POSITIVOS A Papisa indica sabedoria, julgamento correto, sagacidade, bom senso, habilidade para ensinar, segurança, ausência de sentimentalismo, emoções ocultas, relacionamentos platônicos e tendência para evitar envolvimentos emocionais. Indica realização, é o brilho da verdade e do mérito, a entrega no futuro com confiança desde que com sabedoria e reserva.
ASPECTOS NEGATIVOS Ignorância, falsa puritana, domínio do supérfluo, egoísmo, presunção, preguiça, imaginação em excesso, intenções hostis, desenvolver a pacividade sõa aspectos negativos, dos quais pode se livrar tendo como conduta a proteção dos desejos e das fraquezas.
INTERPRETAÇÕES DO ARCANO NO SENTIDOS:
MENTAL: Grande riqueza de idéias. Responde a problemas concretos melhor do que a questões vagas.
EMOCIONAL: É amistosa, recebe bem. Mas não é afetuosa.
FÍSICO: Situação garantida, poder sobre os acontecimentos, revelação de coisas ocultas, segurança de triunfo sobre o mal. Boa saúde, mas com um ritmo físico lento.
PALAVRAS SÁBIAS Acima de tudo o arcano aponta para a Sabedoria, para a ordem divina, a lei, e o poder da reflexão. Fala também do princípio feminino, receptivo e materno. Dos mistérios e uso da intuição.
Procure compreender melhor a situação antes de tomar uma decisão. As vezes é necessário usar as nossas forças chamadas femininas. Passividade, sedução, intuição, suavidade, entendimento...
"O vento e as ondas estão sempre a favor de quem sabe navegar..."
INFLUENCIA NA SUA VIDA Esse arcano influencia positivamente 70% de sua vida.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Exu: entre os homens e os Orixás ... senhor das sensações

Laroyê, Exu! (“Salve, Exu! “)


Para os privilegiados que nasceram em dia de segunda-feira, dia preguiçoso que traz consigo a saudade dos outros dias que já passaram e a expectativa dos dias que ainda virão. Esses têm Exu com Orixá, o que rege este dia tão particular e orienta as ações dos que neste dia nasceram. Para esses as sensações valem mais que as sugestões, eles herdaram de Iemanjá o gosto pela água, combinando-o à intensidade do fogo recebido de Exu, o gosto pela Vida e, sobretudo, a PAIXÃO que nos move a todos.


Esse Orixá possui, assim como os outros, características bastante específicas, as quais são legadas aos homens nascidos no dia regido por ele. Credos de origem africana como o Candomblé e a Umbanda atribuem cada dia da semana a um Orixá, os quais seriam manifestações do grande deus Olorum responsável pelo surgimento do universo. Assim cada dia passa a ser regido por seu respectivo Orixá. Exu rege o segundo dia, a segunda-feira, dia que abre oficialmente a semana.


As cores possuem uma forte simbologia nessas crenças, estabelecendo um elo entre os Orixás e características da personalidade destes. Exu é representado pelas cores preta e vermelha, cores intensas, normalmente ligadas à emoções fortes, sobretudo o vermelho que é frequentemente associado à paixão, e o preto que é a fusão de todas as cores primárias. Sendo ainda associado ao elemento fogo, o que reforça esse caráter intenso e ardente do Orixá e dos que são regidos por ele. Plantas que oferecem sensações ardentes também são associadas a Exu, é caso da pimenta, tiririca, urtiga, arruda, salsa e hortelã. Bebidas quentes também são as preferidas por Exu e os que o tem como Orixá, os quais não dispensam uma água-ardente (cachaça) e comidas como farofa de dendê.


Tido como o mais humano dos Orixás, Exu reúne em si as contradições e conflitos inerentes ao ser humano. É também visto como o senhor do princípio e da transformação, a ordem, deus da Terra e do Universo, é o ego de cada ser. Sua existência dá sentido às outras existências, uma vez que media as relações entre o orun (Céu) e o aiye (Terra), entre Orixás e os homens. É um Orixá poderoso, as armas que o representam são o tridente e o bastão; e os metais bronze e ferro; o elemento da fauna que o representa é o bode. Tem domínios variados, é guardador dos caminhos; o sexo também figura entre seus domínios, por isso os regidos por Exu tendem a ser sensuais, alegres, amantes da vida e das sensações; o poder também é um de seus domínios, assim como a transformação, por isso os regidos por Exu vivem em constante mudança, são dinâmicos e tendem a ser vistos como inconstantes, mas são em verdade pessoas criativas, espertas, persistentes, impulsivas, brincalhonas, amigas e extremamente apaixonadas.


Entre os diversos mitos que narram o surgimento de Exu, há um que diz ser Exu o filho primogênito de Iemanjá com Orunmilá, o deus da adivinhação; irmão de Ogum, Xangô e Oxossi. Conhecido por sua voracidade, era insaciável, conseguindo comer todos os animais da aldeia onde vivia, passando em seguida a se alimentar das árvores, pastos e todos os seres com vida na terra até chegar, enfim ao mar. Este Orixá é também conhecido em sua versão “feminina” como Pomba Gira. As pomba-giras seriam as “margaridas”, mulheres que desempenha a mesma função do “Orixá masculino”, não devendo ser associadas a uma figura de mulher vulgar, responsável apenas por fazer ou desfazer casamentos. No sincretismo católico Exu é representado por Santo Antônio, o santo casamenteiro, mas há quem associe sua existência ao Diabo.


Baseada nessas características arrisco algumas sugestões para os regidos por Exu:

i) Time de futebol: Flamengo (rubro-negro);
ii) Banda: The White Stripes;
iii) Flor: Margarida (vermelha);
iv) Comida: acarajé (quente);
v) Bebida: Suco de abacaxi com hortelã (podendo adicionar uma pequena dose de cachaça).


Exu para Jorge Amado

Não sou preto, branco ou vermelho
Tenho as cores e formas que quiser.
Não sou diabo nem santo, sou Exu!
Mando e desmando,
Traço e risco
Faço e desfaço.
Estou e não vou
Tiro e não dou.
Sou Exu.
Passo e cruzo
Traço, misturo e arrasto o pé
Sou reboliço e alegria
Rodo, tiro e boto,
Jogo e faço fé.
Sou nuvem, vento e poeira
Quando quero, homem e mulher
Sou das praias, e da maré.
Ocupo todos os cantos.
Sou menino, avô, maluco até
Posso ser João, Maria ou José
Sou o ponto do cruzamento.
Durmo acordado e ronco falando
Corro, grito e pulo
Faço filho assobiando
Sou argamassa
de sonho carne e areia.
Sou a gente sem bandeira,
o espeto, meu bastão.
O assento? O vento!..
Sou do mundo, nem do campo
Nem da cidade,
Não tenho idade.
Recebo e respondo pelas pontas,
pelos chifres da nação
Sou Exu.
Sou agito, vida, ação
Sou os cornos da lua nova
A barriga da rua cheia!...
Quer mais? Não dou,
Não tou mais aqui.

Salvador, 17 de maio de 1993
Mario Cravo

domingo, 6 de fevereiro de 2011

SUBVERSÃO?

Define a palavra subversão o seguinte verbete do dicionário Aurélio:
Subversão
[Do lat. subversione.]
Substantivo feminino.
1. Ato ou efeito de subverter(-se).
2. Insubordinação às leis ou às autoridades constituídas; revolta contra elas.
3. Destruição, transformação da ordem política, social e econômica estabelecida; revolução.


Objetivamente tudo o que na língua portuguesa tiver a ver com o acima exposto será classificado como tal, a questão é saber quando se trata de fato de uma insubordinação às leis, uma destruição da ordem vigente, uma revolução. O termo subversão por si ganha em nossa língua uma conotação negativa, o que fere os preceitos morais e éticos e que os transforma/deforma/desordena. Pois bem, nomes como o de Sócrates e, “contemporaneamente”, o de Nietzsche aparecem em algum momento ligados ao termo subversão, mas será que tanto em um quanto no outro podemos dizer que há (des)ordem?


Quando “no princípio, criou Deus os céus e a terra”, esta era sem forma e vazia e havia trevas, tudo era desluz, até que se ouviu o Fiat Lux e fez-se a luz... tão rápido quanto acionar um interruptor. A luz que se fez após a leitura do Vicente de Miguel Torga demorou um pouco mais para “acontecer”, entretanto para os mais atentos à leitura deste conto espetacular ela certamente há de fazer-se. Acostumamo-nos a ler o Gênesis romanticamente e assim continuam os que prosseguem lendo os demais livros bíblicos, condicionados a nunca discordar das sagradas letras, como se o erro fosse prerrogativa das criaturas apenas, recaindo sobre as mesmas toda a culpa. Quanto maior o PECADO maior o PERDÃO e, por conseguinte maior o AMOR do que perdoa.


Miguel Torga nos traz uma reflexão diferente neste conto que é quase uma fábula, ou seria o contrário, nesta fábula que é quase um conto? Ele reconta a narrativa bíblica a partir de outro foco, que já não é o Noé, mas um dos animais “salvos” do dilúvio, um corvo – ave negra e necrófaga – o qual se insurge contra a ordem estabelecida por Deus e Noé decidindo abandonar a arca por achar arbitrária a ideia do dilúvio e o fato de os animais serem punidos pelos pecados dos homens. Passados quarenta dias a bordo da arca Vicente decide dar o voo da libertação, o qual torna público o seu descontentamento com os procedimentos divinos. Existiam outros animais na arca, mas porque o corvo foi escolhido para representar a transgressão? Porque não um pombo? Pelo que as cores das penas nos sugerem; enquanto a brancura do pombo é associada à paz, as negras penas do corvo se associam ao pecado. E todos os “minimamente” cristãos sabem que “o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna...”, como diz o verso 23 do capítulo VI da Epístola de São Paulo aos Romanos. Ir contra a vontade de Deus é caracterizado como uma infração, pecado, logo o destino de Vicente todos sabiam, inclusive ele, que como “bom cristão” tinha ciência de que “Tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Livro de Gálatas, cap. VI, vs. 8).


Inconformismo, revolta, insubmissão e o próprio termo subversão definem no conto o comportamento do corvo, contudo Noé, o responsável pela preservação das espécies, intercede por Vicente, apelando para que Deus não dê cabo de sua vida, uma vez que, atendidas as ordens do divino, ele era o único corvo sobrevivente. Não era um argumento satisfatório se pensarmos que Deus criou os corvos e poderia criar outro após o dilúvio. Porém havia mais coisas em jogo do que a perda de uma espécie, o efeito que a destruição do corvo causaria em todo o resto da criação. Matar Vicente comprovaria a tirania por parte do criador, motivo pelo qual o corvo se “rebelou”. Assim, Deus em sua sabedoria infinita deixa Vicente viver, mostrando a todos os outros seres que Vicente estava equivocado, que em lugar de tirania há em verdade muito amor pelos seres criados.


Há quem acredite que um amor desmedido salvou Vicente, e há os que, como Gregório de Matos em seus versos:

[...] quanto mais tenho delinqüido, vos tenho a perdoar mais empenhado. [...] que a mesma culpa, que vos há ofendido vos tem para o perdão lisonjeado [...] não queiras, pastor divino, perder na vossa ovelha, a vossa glória [...]

veem o pecado como um mecanismo de coerção que tem no perdão um meio de encobrir o despotismo do criador para com as criaturas, o pecado existe para que exista o perdão.


A atitude do corvo pode ser um ato de subversão para quem a ordem é punir as criaturas pecadoras, mas para os que têm sede de justiça, como Vicente, e não consideram um ato justo punir inocentes pela culpa de outros, o dilúvio era a desordem e o “insurgente” voo do Vicente, como um revés, era em verdade a instauração da ordem na figura do corvo.




Vicente
(Miguel Torga)

Naquela tarde, à hora em que o céu se mostrava mais duro e mais sinistro, Vicente abriu as asas negras e partiu. Quarenta dias eram já decorridos desde que, integrado na leva dos escolhidos, dera entrada na Arca. Mas desde o primeiro instante que todos viram que no seu espírito não havia paz. Calado e carrancudo, andava de cá para lá numa agitação contínua, como se aquele grande navio onde o Senhor guardara a vida fosse um ultraje à criação. Em semelhante balbúrdia - lobos e cordeiros irmanados no mesmo destino -, apenas a sua figura negra e seca se mantinha inconformada com o procedimento de Deus. Numa indignação silenciosa, perguntava:- a que propósito estavam os animais metidos na confusa questão da torre de Babel? Que tinham que ver os bichos com as fornicações dos homens, que o Criador queria punir? Justos ou injustos, os altos desígnios que determinavam aquele dilúvio batiam de encontro a um sentimento fundo, de irreprimível repulsa. E, quanto mais inexorável se mostrava a prepotência, mais crescia a revolta de Vicente.

Quarenta dias, porém, a carne fraca o prendeu ali. Nem mesmo ele poderia dizer como descera do Líbano para o cais de embarque e, depois, na Arca, por tanto tempo recebera das mãos servis de Noé a ração quotidiana. Mas pudera vencer-se. Conseguira, enfim, superar o instinto da própria conservação, e abrir as asas de encontro à imensidão terrível do mar.

A insólita partida foi presenciada por grandes e pequenos num respeito calado e contido. Pasmados e deslumbrados, viram-no, temerário, de peito aberto, atravessar o primeiro muro de fogo com que Deus lhe quis impedir a fuga, sumir-se ao longe nos confins do espaço. Mas ninguém disse nada. O seu gesto foi naquele momento o símbolo da universal libertação. A consciência em protesto activo contra o arbítrio que dividia os seres em eleitos e condenados.

Mas ainda no íntimo de todos aquele sabor de resgate, e já do alto, larga como um trovão, penetrante como um raio, terrível, a voz de Deus:

- Noé, onde está o meu servo Vicente?

Bípedes e quadrúpedes ficaram petrificados. Sobre o tombadilho varrido de ilusões, desceu, pesada, uma mortalha de silêncio.

Novamente o Senhor paralisara as consciências e o instinto, e reduzia a uma pura passividade vegetativa o resíduo da matéria palpitante.

Noé, porém, era homem. E, como tal, aprestou as armas de defesa.

- Deve andar por aí...Vicente! Vicente! Que é do Vicente?!...

Nada.

- Vicente!...Ninguém o viu? Procurem-no!

Nem uma resposta. A criação inteira parecia muda.

- Vicente! Vicente! Em que sítio é que ele se meteu?

Até que alguém, compadecido da mísera pequenez daquela natureza, pôs fim à comédia.

- Vicente fugiu...

- Fugiu? Fugiu como?

- Fugiu...Voou...

Bagadas de suor frio alagaram as têmporas do desgraçado. De repente, bambearam-lhe as pernas e caiu redondo no chão.

Na luz pardacenta do céu houve um eclipse momentâneo. Pelas mãos invisíveis de quem comandava as fúrias, como que passou, rápido, um estremecimento de hesitação.

Mas a divina autoridade não podia continuar assim, indecisa, titubeante, à mercê da primeira subversão. O instante de perplexidade durou apenas um instante. Porque logo a voz de Deus ribombou de novo pelo céu imenso, numa severidade tonitruante.

- Noé, onde está o meu servo Vicente?

Acordado do desmaio poltrão, trémulo e confuso, Noé tentou justificar-se.

- Senhor, o teu servo Vicente evadiu-se. A mim não me pesa a consciência de o ter ofendido, ou de lhe haver negado a ração devida. Ninguém o maltratou aqui. Foi a sua pura insubmissão que o levou... Mas perdoa-lhe, e perdoa-me também a mim... E salva-o, que, como tu mandaste, só o guardei a ele...

- Noé!...Noé!...

E a palavra de Deus, medonha, toou de novo pelo deserto infinito do firmamento. Depois, seguiu-se um silêncio mais terrível ainda. E, no vácuo em que tudo parecia mergulhado, ouvia-se, infantil, o choro desesperado do Patriarca, que tinha então seiscentos anos de idade.

Entretanto, suavemente, a Arca ia virando de rumo. E a seguir, como que guiada por um piloto encoberto, como que movida por uma força misteriosa, apressada e firme - ela que até ali vogara indecisa e morosa ao sabor das ondas -, dirigiu-se para o sítio onde quarenta dias antes eram os montes da Arménia.

Na consciência de todos a mesma angústia e a mesma interrogação. A que represálias recorreria agora o Senhor? Qual seria o fim daquela rebelião?

Horas e horas a Arca navegou assim, carregada de incertezas e terror. Iria Deus obrigar o corvo a regressar à barca? Iria sacrificá-lo, pura e simplesmente, para exemplo? Ou que iria fazer? E teria Vicente resistido à fúria do vendaval, à escuridão da noite e ao dilúvio sem fim? E, se vencera tudo, a que paragens arribara? Em que sítio do universo havia ainda um retalho de esperança?

Ninguém dava resposta às próprias perguntas. Os olhos cravavam-se na distância, os corações apertavam-se num sentimento de revolta impotente, e o tempo passava.

Subitamente, um lince de visão mais penetrante viu terra. A palavra, gritada a medo, por parecer ou miragem ou blasfémia, correu a Arca de lés a lés como um perfume. E toda aquela fauna desiludida e humilhada subiu acima, ao convés, no alvoroço grato e alentador de haver ainda chão firme neste pobre universo.

Terra! Nem planaltos, nem veigas, nem desertos. Nem mesmo a macicez tranquilizadora dum monte... Mas bastava. Para quantos o viam, o pequeno penhasco resumia a grandeza do mundo. Encarnava a própria realidade deles, até ali transfigurados em meros fantasmas flutuantes. Terra! Uma minúscula ilha de solidez no meio dum abismo movediço, e nada mais importava e tinha sentido.

Terra! Desgraçadamente, a doçura do nome trazia em si um travor. Terra...Sim, existia ainda o ventre quente da mãe. Mas o filho? Mas Vicente, o legítimo fruto daquele seio?

Vicente, porém, vivia. À medida que a barca se aproximava, foi-se clarificando na lonjura a sua presença esguia, recortada no horizonte, linha severa que limitava um corpo, e era ao mesmo tempo um perfil de vontade.

Chegara! Conseguira vencer! E todos sentiram na alma a paz da humilhação vingada.

Simplesmente, as águas cresciam sempre, e o pequeno outeiro, de segundo a segundo, ia diminuindo.

Terra! Mas uma porção de tal modo exígua, que até os mais confiados a fixavam ansiosamente, como a defendê-la da voragem. A defendê-la e a defender Vicente, cuja sorte se ligara inteiramente ao telúrico destino.

Ah, mas estavam "rotas as fontes do grande abismo e abertas as cataratas do céu!" E homens e animais começaram a desesperar diante daquele submergir irremediável do último reduto da existência activa. Não, ninguém podia lutar contra a determinação de Deus. Era impossível resistir ao ímpeto dos elementos, comandados pela sua implacável tirania.

Transida, a turba sem fé fitava o reduzido cume e o corvo pousado em cima. Palmo a palmo, o cabeço fora devorado. Restava dele apenas o topo, sobre o qual, negro, sereno, único representante do que era raiz plantada no seu justo meio, impávido, permanecia Vicente. Como um espectador impessoal, seguia a Arca que vinha subindo com a maré. Escolhera a liberdade, e aceitara desde esse momento todas as consequências da opção. Olhava a barca, sim, mas para encarar de frente a degradação que recusara.
Noé e o resto dos animais assistiam mudos àquele duelo entre Vicente e Deus. E no espírito claro ou brumoso de cada um, este dilema, apenas: ou se salvava o pedestal que sustinha Vicente, e o Senhor preservava a grandeza do instante genesíaco - a total autonomia da criatura em relação ao criador -, ou, submerso o ponto de apoio, morria Vicente, e o seu aniquilamento invalidava essa hora suprema. A significação da vida ligara-se indissoluvelmente ao acto de insubordinação. Porque ninguém mais dentro da Arca se sentia vivo. Sangue, respiração, seiva de seiva, era aquele corvo negro, molhado da cabeça aos pés, que, calma e obstinadamente, pousado na derradeira possibilidade de sobrevivência natural, desafiava a omnipotência.

Três vezes uma onda alta, num arranco de fim, lambeu as garras do corvo, mas três vezes recuou. A cada vaga, o coração frágil da Arca, dependente do coração resoluto de Vicente, estremeceu de terror. A morte temia a morte.

Mas em breve se tornou evidente que o Senhor ia ceder. Que nada podia contra àquela vontade inabalável de ser livre.

Que, para salvar a sua própria obra, fechava, melancolicamente, as comportas do céu.

(Daniele Oliveira)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Prêmio

Todo bom contador de causos é também um bom ouvidor, do mesmo modo que todo bom ouvidor tende a tornar-se um bom contador...
O causo que será aqui exposto é povoado por personagens assim, uma boa ouvidora de causos, que certa noite em seu trabalho tem diante de sua mesa uma figura pronta a lhe narrar a história mais impressionante e inesperada que ela poderia ouvir naquele lugar e naquele momento. Assim, sem saber o que lhe aguardava, a mulher iniciou a “conversa” – conversa entre aspas, porque em verdade o que aconteceu ali foi um quase monólogo, uma narrativa com algumas poucas intervenções da ouvinte.
“Desde que me disseram que eu ia receber um prêmio, eu não parei mais de pensar nisso”, disparou o homem sentado na sala da coordenação, “Eu nunca tinha ganhado nada antes”, continua. A frustração lhe saltava aos olhos. A coordenadora que o atendeu deve ter se perguntado o que teria acontecido aquele pobre homem.
A mulher, curiosa, pediu que ele contasse o ocorrido, sem saber que o que se seguiria seria um emocionante causo. Adianto ao leitor que não se trata de um causo espetacular ou sobrenatural, mas de uma história simples e emocionante de um sujeito e o seu prêmio.
A partir do momento em que foi informado sobre sua participação na premiação, o sujeito conta emocionado, que andava ansioso com o prêmio que receberia, mesmo sem nem saber o que era, sabia apenas que se tratava de um MP3, mas nem sabia o que era isso, nem para que lhe serviria ou o que poderia fazer com ele. Foi então pesquisar para saber como usaria seu prêmio. Quando descobriu que era na verdade um aparelho que tocava músicas em formato MP3 (um padrão de arquivos digitais de áudio estabelecido pelo Moving Picture Experts Group - MPEG) e que, portanto poderia ouvir músicas com ele, pensou logo nos hinos que tanto gostava e, assim, tratou logo de pedir a um vizinho que fizesse uma lista com seus cânticos preferidos. O vizinho conseguiu reunir em uma lista mais de 140 louvores, o que deixou nosso narrador/personagem ainda mais empolgado.
O dia da premiação...
Finalmente chegou o dia de receber o seu prêmio, desde que lhe disseram que ganharia um MP3 ele estava ansioso, estava tão feliz, mais tão feliz – contava - que parecia que ia ganhar um carro. Quando ouviu seu nome ser chamado, mal podia respirar, subiu ao palco apressado, e foi quando lhe entregaram um DVD - trata-se aqui do aparelho e não da mídia - estranhou, ficou triste, mas não disse nada, além de “obrigado”. A ouvinte do causo, perguntou, então, por que ele não havia gostado do aparelho de DVD, afinal valia mais que o aparelho de MP3. Feito esse questionamento, o contador prossegue sua narrativa, explicando que aquele não lhe seria muito útil, pois ele só poderia assistir em sua casa, enquanto que com este último ele poderia ouvir seus hinos em todos os lugares, em casa, na escola e, principalmente, no trabalho. O leitor deve estar se perguntando que tipo de trabalho aquele homem realizava para, agora, achar tão indispensável ter um aparelho para ouvir música durante o expediente, bem essa informação só quem tem é o narrador do causo, que não nos revelou em seu quase monólogo, portanto, deixemos isso de lado e voltemos ao que, para o contador, realmente importa. A premiação prosseguiu alheia ao sujeito e sua desilusão. Até que este percebeu que o tão aguardado MP3 estava com uma jovem que havia tirado o primeiro lugar, de posse dessa informação, nosso “herói” não penso se quer mais uma única vez, dirigiu-se imediatamente à organização do evento “exigindo” a troca dos prêmios. E foi assim que eles, percebendo a confusão, fizeram a (des)trocaram. O sujeito finalmente teve nas mãos o seu tão desejado MP3.
Era tão pequeno – informava o contador do causo - difícil crer que ali, num trocinho minúsculo como aquele caberiam as mais de 140 músicas selecionadas por seu vizinho. Ele não voltou para a sua casa naquela tarde, foi direto para a casa do vizinho, gravar seus hinos. No início da noite era só alegria, não se separou mais do seu “Prêmio” nas duas horas seguintes, esqueceu esposa e filhos e ficou lá com suas músicas. Como aquilo era possível? - ainda pensava ele, mas agora mais despreocupadamente, pois naquele momento só o que importava verdadeiramente era a música que ele poderia ouvir, com seu pequeno objeto, aonde quer que fosse. A alegria que o prêmio lhe proporcionou era enorme e só aumentava com o passar das horas, assim, ao invés de cansar, enjoar do presente, ele se mostrava cada vez mais animado. Não podia se quer imaginar que dali a alguns minutos tudo mudaria, que sua alegria se transformaria em desgosto.
O que aconteceu após essas duas horas de felicidade plena foi o que fez com que essa história chegasse ao nosso conhecimento, isso porque passadas as duas horas a música parou, segundo ele, só se ouvia um zum-zum-zum. A esposa, na tentativa de “confortá-lo”, disse que aquilo era assim mesmo, um troço tão pequenino só podia mesmo ser descartável. Era isso, o prêmio que ele tanto aguardara, que tanto quisera, só tinha vida útil de duas horas. Conta o homem que naquele momento ele se trancou em seu quarto e chorou, chorou como quando era menino e via quebrar algum de seus brinquedos. Neste ponto da narrativa, conta a ouvinte, que seus olhos novamente se encheram de lágrimas, ele parecia mesmo um menino chorando pelo brinquedo perdido, e nesse momento até ela quis chorar.
O acontecido do parágrafo anterior foi o que levou o sujeito até a sala da diretoria da escola para informar sua desventura à coordenadora, uma vez que a premiação fazia parte de um programa de incentivo da prefeitura municipal aos alunos com bom rendimento nas disciplinas escolares. Assim o contador do causo desolado encerra sua narrativa lamentando o ocorrido, pois segundo ele isso foi acontecer justo no momento em que ele havia aprendido os cálculos, que já conseguia armar as contas...
A tristeza da coordenadora foi ainda maior que a do aluno. Este perdeu seu MP3, aquela perdeu um aluno nota 10.
Agora cabe a questão, será que o aparelho de MP3 realmente não funcionava ou apenas acabou a bateria e ele não soube recarregar? Será que estava com defeito, ou faltava apenas o adaptador para conectá-lo à tomada? Ou ainda, cabe questionar se o aparelho é mesmo descartável, como afirmou a esposa do nosso personagem. Descobrir o “X” dessa questão é agora a missão da coordenadora que terá um novo encontro com o contador do causo no dia seguinte.

(Daniele Oliveira, 29 de agosto de 2010)