segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Exu: entre os homens e os Orixás ... senhor das sensações

Laroyê, Exu! (“Salve, Exu! “)


Para os privilegiados que nasceram em dia de segunda-feira, dia preguiçoso que traz consigo a saudade dos outros dias que já passaram e a expectativa dos dias que ainda virão. Esses têm Exu com Orixá, o que rege este dia tão particular e orienta as ações dos que neste dia nasceram. Para esses as sensações valem mais que as sugestões, eles herdaram de Iemanjá o gosto pela água, combinando-o à intensidade do fogo recebido de Exu, o gosto pela Vida e, sobretudo, a PAIXÃO que nos move a todos.


Esse Orixá possui, assim como os outros, características bastante específicas, as quais são legadas aos homens nascidos no dia regido por ele. Credos de origem africana como o Candomblé e a Umbanda atribuem cada dia da semana a um Orixá, os quais seriam manifestações do grande deus Olorum responsável pelo surgimento do universo. Assim cada dia passa a ser regido por seu respectivo Orixá. Exu rege o segundo dia, a segunda-feira, dia que abre oficialmente a semana.


As cores possuem uma forte simbologia nessas crenças, estabelecendo um elo entre os Orixás e características da personalidade destes. Exu é representado pelas cores preta e vermelha, cores intensas, normalmente ligadas à emoções fortes, sobretudo o vermelho que é frequentemente associado à paixão, e o preto que é a fusão de todas as cores primárias. Sendo ainda associado ao elemento fogo, o que reforça esse caráter intenso e ardente do Orixá e dos que são regidos por ele. Plantas que oferecem sensações ardentes também são associadas a Exu, é caso da pimenta, tiririca, urtiga, arruda, salsa e hortelã. Bebidas quentes também são as preferidas por Exu e os que o tem como Orixá, os quais não dispensam uma água-ardente (cachaça) e comidas como farofa de dendê.


Tido como o mais humano dos Orixás, Exu reúne em si as contradições e conflitos inerentes ao ser humano. É também visto como o senhor do princípio e da transformação, a ordem, deus da Terra e do Universo, é o ego de cada ser. Sua existência dá sentido às outras existências, uma vez que media as relações entre o orun (Céu) e o aiye (Terra), entre Orixás e os homens. É um Orixá poderoso, as armas que o representam são o tridente e o bastão; e os metais bronze e ferro; o elemento da fauna que o representa é o bode. Tem domínios variados, é guardador dos caminhos; o sexo também figura entre seus domínios, por isso os regidos por Exu tendem a ser sensuais, alegres, amantes da vida e das sensações; o poder também é um de seus domínios, assim como a transformação, por isso os regidos por Exu vivem em constante mudança, são dinâmicos e tendem a ser vistos como inconstantes, mas são em verdade pessoas criativas, espertas, persistentes, impulsivas, brincalhonas, amigas e extremamente apaixonadas.


Entre os diversos mitos que narram o surgimento de Exu, há um que diz ser Exu o filho primogênito de Iemanjá com Orunmilá, o deus da adivinhação; irmão de Ogum, Xangô e Oxossi. Conhecido por sua voracidade, era insaciável, conseguindo comer todos os animais da aldeia onde vivia, passando em seguida a se alimentar das árvores, pastos e todos os seres com vida na terra até chegar, enfim ao mar. Este Orixá é também conhecido em sua versão “feminina” como Pomba Gira. As pomba-giras seriam as “margaridas”, mulheres que desempenha a mesma função do “Orixá masculino”, não devendo ser associadas a uma figura de mulher vulgar, responsável apenas por fazer ou desfazer casamentos. No sincretismo católico Exu é representado por Santo Antônio, o santo casamenteiro, mas há quem associe sua existência ao Diabo.


Baseada nessas características arrisco algumas sugestões para os regidos por Exu:

i) Time de futebol: Flamengo (rubro-negro);
ii) Banda: The White Stripes;
iii) Flor: Margarida (vermelha);
iv) Comida: acarajé (quente);
v) Bebida: Suco de abacaxi com hortelã (podendo adicionar uma pequena dose de cachaça).


Exu para Jorge Amado

Não sou preto, branco ou vermelho
Tenho as cores e formas que quiser.
Não sou diabo nem santo, sou Exu!
Mando e desmando,
Traço e risco
Faço e desfaço.
Estou e não vou
Tiro e não dou.
Sou Exu.
Passo e cruzo
Traço, misturo e arrasto o pé
Sou reboliço e alegria
Rodo, tiro e boto,
Jogo e faço fé.
Sou nuvem, vento e poeira
Quando quero, homem e mulher
Sou das praias, e da maré.
Ocupo todos os cantos.
Sou menino, avô, maluco até
Posso ser João, Maria ou José
Sou o ponto do cruzamento.
Durmo acordado e ronco falando
Corro, grito e pulo
Faço filho assobiando
Sou argamassa
de sonho carne e areia.
Sou a gente sem bandeira,
o espeto, meu bastão.
O assento? O vento!..
Sou do mundo, nem do campo
Nem da cidade,
Não tenho idade.
Recebo e respondo pelas pontas,
pelos chifres da nação
Sou Exu.
Sou agito, vida, ação
Sou os cornos da lua nova
A barriga da rua cheia!...
Quer mais? Não dou,
Não tou mais aqui.

Salvador, 17 de maio de 1993
Mario Cravo

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